Se um dia separou-se o Brasil
da pátria-mãe chamada Portugal,
porém mais que uma língua os uniu:
o coração de ambos compassado
bateu apesar da história vária.
O mesmo Pedro que os separou,
sobre ambos exerceu o seu reinado.
Sentiram o peso da opressão
e a liberdade ambos perseguiram.
O sonho que alimentam permanece
e se El Rei ainda não tornou
nem o gigante do sono acordou,
na veia dos dois povos corre a luta
viril e corajosa que os marcou.



Se achaste estas terras, ó Cabral,
quiçá antes de ti já conhecidas,
ou se a descobriste ao procurar
a rota para as Índias, ‘inda oculta,
o fato é que ao chegar aqui
uniste a brava história lusitana
à história desta terra americana.
Se desbravaram o mar os navegantes
e conquistaram o oceano azul,
aqui não menos bravos bandeirantes
a imensa mata verde adentraram.
E o sangue unindo três povos distintos
– os lusos e os índios e os negros –
criou o viril povo brasileiro.


Atravessei o Tejo na barcaça
que, lenta, lançou-me à outra margem.
E ao distanciar-me de Lisboa
eu pude contemplá-la em plenitude.




Após a tempestade de granizo
que perfurou o teto da choupana,
a noite surgiu limpa e a lua cheia.
A pobre mãe os estrago lamentava,
pisava nas estrelas o menino
e a jovem, pensando em seu amado,
contemplava o teto estrelado.




Um canto apaixonado
é o lusitano fado.
Pela boca cantado,
o é mais co’o coração
em emoção rasgado.



O tempo por mim desperdiçado
parece faltar-me no presente;
o futuro já me bate à porta,
achega-se o fim da minha vida.

Apressa-se a tinta no papel
a grafar os versos que hora me vêm;
são tantas as díspares idéias,
muitas que nem posso concluir.

Que tolo fui eu na juventude,
julgando que a vida fosse eterna,
que o tempo jamais me faltaria
e o mundo eu teria a meus pés.

Pago hoje o preço de meu erro,
sem ao meu passado retornar.
Deixo menos versos que eu quisera,
mas neles, um pouco de minh’alma.



Meus cadernos que tanto de mim contém –
tantos sonhos e idéias lá escritos –
me revelam inteiramente e fracassado,
pois a data que avança a cada página
sinaliza o passado que, crescendo,
diminui o futuro e a esperança
do que escrevi então se realizar.


Às vezes sinto a ânsia de ser livre,
de possuir o tempo a meu dispor,
sem compromissos ou preocupações,
de ter o ócio como companheiro.

Poder sorver a vida simplesmente,
à matutina luz ser despertado,
sentir o toque do sol e da brisa,
ouvir da natureza os seus sons.

E sem qualquer outra ocupação,
fazer dos meus sentidos minha lida,
em versos traduzindo o que vivo,
nos versos eu vivendo além da morte.


Quando paro, a contemplar o Tejo
fluindo, calmo, em direção ao mar,
me vêm à mente todo o seu percurso
desde a Espanha, cruzando a Lusitânia,
e se tornando um com o Atlântico.

Serias majestoso, ó Atlântico,
sem as águas que correm da Ibéria?
Serias tão cantado em verso e prosa
sem as lusas naus que em ti singraram,
tornando-te, então, mar português?

As águas deste rio que hora contemplo,
carregam ‘inda a história do passado.
Mas não se perdem elas no oceano,
levando, sim, até o fim do mundo
o império que hoje vive na memória.


Quando chegar a mi’a morte,
não será noticiada,
poucos a lamentarão,
falta não farei ao mundo.

Porém resta-me a esperança
que um dia meus poemas
por alguém seja encontrado,
que lhes dê algum valor.

Se acaso o que escrevi
for por outros conhecido,
mesmo estando morto o corpo,
em meus versos viverei.

Porém, se ao lixo forem
jogados os meus papéis,
finda-se a mi’a esperança,
de fato morto estarei.